Planejar a compra do primeiro imóvel
Mais que a realização de um sonho, a compra do primeiro imóvel pode ser um bom negócio. Fugir do aluguel, ter um patrimônio sólido, constituir família, criar vínculo com a vizinhança e com o bairro, e uma possível valorização do imóvel são argumentos que pesam.
Casado há 12 anos, o gerente de tecnologia Marcos Antônio Martins decidiu comprar uma casa quando teve seu primeiro filho, há cinco anos. Ele conseguiu pagar metade ao proprietário e financiar a outra metade em 15 anos. “As prestações são mais baixas que um aluguel, e agora pago por uma coisa que é minha”, diz Martins. “Dá segurança, ninguém vai tomar de mim de uma hora pra outra, posso fazer o que bem entender com a casa.” Seu segundo filho nasceu há um mês e meio e Martins já pensa em trocar a casa por outra maior.
Concretizar o sonho da casa própria exige certos cuidados. A melhor forma é ter o valor total no ato da compra, o que evita problemas com empréstimos e garante maior poder de barganha.
Mas essa hipótese é inviável para a grande maioria das pessoas.
Nesses casos um financiamento pode resolver, mas os especialistas recomendam cautela, análise e planejamento. “A aquisição tem de ser segura, senão você pode perder o que pagou, ficar com saldo devedor maior que o valor do imóvel mesmo já tendo quitado tudo, às vezes perder a economia de uma vida”, diz o diretor executivo do site Financeiro24horas.com, Reginaldo Domingos.
Para jovens, solteiros, ou mesmo famílias que devem residir por poucos anos no mesmo imóvel, o professor da Universidade Federal do Paraná, Mauro Halfeld recomenda o aluguel. “A taxa de aluguel de um apartamento seminovo, de 0,6% do imóvel, é menor que os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos imobiliários”, explica o autor do livro Seu imóvel, como comprar bem. “E deixa-se de gastar com corretagem e escritura.”
Passos
Antes de poupar dinheiro para a compra ou para a entrada de um financiamento, Halfeld prega uma reeducação dos gastos. Os primeiros passos, diz, são quitar todas as dívidas, fugir dos crediários e dos juros dos bancos. Em seguida, fazer uma reserva de emergência, equivalente a três vezes um rendimento de um emprego estável e seis de uma renda instável, “uma boa maneira de se imunizar contra o endividamento”, explica.
Para garantir uma boa compra, Domingos recomenda um planejamento cuidadoso.
Colocar no papel o preço do imóvel desejado, o orçamento disponível e calcular o quanto precisa poupar mensalmente para formar uma boa reserva no final do prazo estabelecido.
Ele prega a economia de 10% a 15% dos rendimentos para a compra do imóvel, que pode ser conseguido com um “corte dos gastos com excessos”, como a compra de um celular repleto de acessórios. “São preciosismos. Você compra um celular com câmera, internet, gravador de voz e de fato só usa a agenda e para fazer e receber chamadas”, disse. “Esse consumismo é um ciclo vicioso.
O sacrifício de hoje garante o privilégio de amanhã”, complementa.
Halfeld defende o mercado de ações como a melhor aplicação do dinheiro para a casa, pelos resultados a longo prazo. Mas aí é preciso certo conhecimento e sangue frio para não se abalar com a intensa oscilação da bolsa. Para quem não está disposto a assumir riscos, o professor recomenda os fundos de renda fixa, que são seguros e “devem continuar a render mais que a poupança”. E financiar o mínimo possível, devido aos altos juros praticados e a instabilidade econômica do País.
Além disso, recomenda uma reserva para depois da compra, “para não ter prejuízos em uma venda rápida diante de uma emergência”, o que é comum pela baixa liquidez e altos custos que envolvem os negócios com imóveis. Apesar de depender de fatores como o desenvolvimento de cada região, Halfeld diz que em geral e no longo prazo o imóvel valoriza e se mostra um bom investimento, além de ser bastante estável.