Um bairro com muita vocação artística. E bem modernista

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De origem franco-romena, o artista Samson Flexor formou-se em Paris e especializou-se em pintura mural e arte sacra, tendo cursado a Escola Nacional de Belas-Artes e a Academia Ranson. Conviveu com o meio artístico da capital francesa durante mais de 20 anos. “Ele veio ao Brasil na década de 40 para uma exposição na Galeria Prestes Maia”, observa Giordano. Depois voltou a Paris e, em 1948, retornou ao Brasil com a mulher, Margot, e os dois filhos. Morou inicialmente na Alameda Santos, 463. “No mesmo ano fez uma série de pinturas (Via-sacra) na Igreja Nossa Senhora de Fátima, no Sumaré.”

Apesar de residir no Brasil, Flexor realizava regularmente exposições individuais por diversas capitais da Europa e integrou o staff de seis bienais de São Paulo, da Bienal de Veneza e da Bienal de Tóquio. Na década de 50, pediu ao arquiteto Rino Levi para projetar uma casa na Vila Mariana, que funcionasse ao mesmo tempo como um ateliê. “Ali o artista morou até o falecimento, em 1971. É uma coincidência feliz. Com o passar dos anos a casa do artista abriga arte e cultura”, diz o atual “inquilino”, Giordano.

A maioria dos moradores da Rua Gaspar Lourenço, porém, desconhece a história da casa do número 587 e muito menos a possibilidade de o local vir a se tornar uma biblioteca aberta ao público. Para o aposentado Wesley Rodrigues Maia, de 74 anos, que mora na rua há mais de 25 anos, foi uma surpresa saber da vizinhança ilustre. “Não me diga. Nunca soube disso. Vou procurar saber da história dele e contar para os meus filhos e netos.”

Essa possibilidade de o local abrigar um acervo de livros e revistas anteriores a década de 50 também anima o aposentado. “A leitura e a memória são essenciais. As pessoas se esquecem facilmente das coisas. Precisamos deixá-las registradas e preservadas.”

Arquitetura 

Para Denise Delfim, de 44 anos, que mora na Vila Mariana desde que nasceu e participa do Fórum de Cultura de Vila Mariana e do Movimento Memória Viva, o bairro, além de ter tido moradores ilustres, de alguma forma preservou a sua história, que pode ser vista atualmente pela arquitetura. “É considerável o número de arquitetos importantes no cenário paulista e brasileiro que têm obras na região.”

Ela cita, por exemplo, o Matadouro Municipal, projetado pelo arquiteto Alberto Kuhlmann em 1887 e desativado em 1920, que se tornou sede da Cinemateca Brasileira em 1998. Existe ainda a memória de um morador ilustre na Rua Caravelas, o escritor Oswald de Andrade. “Sem contar as casas do Ianelli na Rua Joaquim Távora.”

No bairro também está a primeira casa modernista da América Latina. Ela foi construída em 1927 pelo arquiteto Gregori Warchavchik. “Graças à mobilização da República de Vila Mariana, associação formada inicialmente por antigos moradores – e podemos destacar a pessoa de Walter Taverna -, em 2004 o local virou um parque aberto ao público, onde a Secretaria Municipal de Cultura realiza cursos”, destaca Denise. Ela ainda destaca a importância de outros marcos locais a serem preservados, como o Parque do Ibirapuera, a Casa da Rua Santa Cruz, o Senai Anchieta, o Instituto Biológico, o Detran e a Assembléia Legislativa. “Temos aqui no bairro inúmeras obras modernistas, que precisam ser cuidadas.”

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