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Morada experimental

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A escada de ferro é ponto de destaque na área social e contrasta com a parede de tijolos (Fotos: Zeca Wittner)

A escada de ferro é ponto de destaque na área social e contrasta com a parede de tijolos (Fotos: Zeca Wittner)

Quantas pessoas podem dizer que o objeto de sua tese de mestrado é a própria residência? Pois foi o que aconteceu com o arquiteto Carlos Verna, que fazia pós-graduação no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em 2002 e estava construindo uma casa na Vila Madalena.

De óculos, cabelos encaracolados e roupas casuais, Carlos tem o visual de um jovem professor universitário, o que também é, de fato. Uma vez por semana dá aulas na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e, a caminho do câmpus, teve a inspiração para seu projeto. “Via galpões industriais sendo erguidos na Rodovia dos Bandeirantes, feitos de aço e telhas de alumínio. Imaginei como seria fazer uma casa com esses materiais”, conta.  

A fachada da casa, que tem sistema de captação da água da chuva

A fachada da casa, que tem sistema de captação da água da chuva

O terreno da morada fica num aclive acentuado (de 45º de ângulo em relação à rua), o que normalmente exige gastos elevados na fundação. Mas o desafio não desanimou Verna. “Fiz o alicerce de concreto e a armadura de aço. Quanto mais leve a estrutura, mais econômica a obra, já que a fundação vai sustentar menores cargas”, diz.  

A orientadora do arquiteto no IPT, por sua vez, sugeriu que ele fizesse um estudo de casa usando telhas metálicas na fachada. “A ideia era ver como se comportavam diante das variações climáticas. São Paulo pode ter as quatro estações do ano num só dia e os materiais reagem de forma diferente”, explica, referindo-se aos movimentos de contração e dilatação.
 
ARQUITETURA E PIZZARIA – O então mestrando foi atrás de empresas para obter informações sobre o tema, mas descobriu que sabiam pouco a respeito. “Em compensação, a Alcoa gostou tanto do projeto que doou as telhas de alumínio e disponibilizou um técnico para os acabamentos”, diz o paulistano de 44 anos, que, além de arquiteto e professor, é sócio de uma pizzaria e trabalha com montagens de exposições e cenografia de shows. “O segredo para realizar tantas coisas é confiar nas pessoas”, afirma. “Procuro gente com uma energia legal e delego responsabilidades. Tudo é uma grande conversa.” 

Em 2004, a casa foi concluída e, passados cinco anos, a mistura de materiais (aço e tijolos, entre outros) provou ser frutífera, bem como o sistema de captação de água das chuvas. E mais: expressam identidade própria nos 300 m² de área da residência. “O Brasil afora é um país de construções rústicas e, quando se assume essa característica aliando materiais novos e tradicionais, surge uma tecnologia nacional cujo resultado é elegante e moderno”, opina o arquiteto. Essa visão está presente em sua própria morada, como a fachada de telhas de alumínio e tijolos pintados de cal recortada por janelas de formatos diversos. “As linhas retas dialogam com as curvas e criam movimento”, observa. 

LUMINOSIDADE – No interior da residência, os espaços são integrados e têm amplas aberturas, proporcionando farta luminosidade e economia de luz elétrica. A claraboia no piso superior, onde ficam os três dormitórios, está alinhada com a escada central (que corta os três níveis da construção) e com o quadrado de vidro instalado no chão do hall de entrada, situado no andar inferior.  

Essa superfície transparente permite que se veja o jardim logo abaixo da casa (que é suspensa), no aclive do terreno, e ganha iluminação cênica à noite (projeto da Labluz; instalação do eletricista Armando). No piso intermediário, o living exibe uma estante embutida com porta deslizante.  

O arquiteto deu ritmo visual à peça ao criar vãos nas prateleiras quadriculadas. Ao lado, duas poltronas de madeira e acrílico fazem uma releitura da cadeira Vermelha e Azul, do arquiteto e designer Gerrit Rietveld. “Gosto de peças atemporais que, por meio da intervenção, fazem uma ponte entre arte, design e arquitetura”, diz Verna.  

SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL – Na casa de Carlos Verna, boa parte da água da chuva é armazenada por meio de um sistema de canaletas e usada para regar jardim, lavar calçada e na descarga de sanitários.  

A captação é feita pelo telhado, jardim (que fica na parte mais alta do terreno), terraço e deck. Do telhado, a água desce por canaletas instaladas nas bordas do teto e são conectadas a tubos de PVC, que seguem pelas paredes externas até as canaletas do terreno. O “caminho” principal é feito de pedra e, em degraus, segue o declive do terreno, passando por baixo da escada e seguindo até a cisterna. Antes de chegar ao reservatório principal, é filtrada para a separação de galhos, folhas e terra que vêm com a chuva.  

A cisterna, de alvenaria e impermeabilizada, fica em um pequeno cômodo, para facilitar a limpeza. De lá, a água é bombeada para o segundo reservatório, de onde sai para ser reutilizada. Uma caixa de 3 mil a 5 mil litros de capacidade é suficiente para uma residência.

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