Novo imóvel está a 5 km do comprador
São Paulo – Procurar é o que tem feito o estudante de direito Marceu Perroni, 22 anos. Há dois anos ele, que é noivo de Danila, residente no interior do Estado, procura um imóvel no bairro do Itaim, na zona sul da capital.
A demora para achar o apartamento ideal, tem vários fatores, segundo ele. O principal é que Marceu não abre mão de morar no bairro onde nasceu. E o apartamento precisa ter dois quartos, para receber o pais da noiva, que devem visitar a filha em São Paulo. O preço é outro fator que emperra a escolha. “Os novos estão caros. Optei por buscar usados.” Para encontrar, ele utiliza a internet como ferramenta de busca, consulta imobiliárias e anda pelas ruas do bairro em busca de placas de “Vende-se”.
A história de Marceu ilustra em parte o comportamento do brasileiro na hora de comprar imóvel: o que vale na busca por um imóvel é sua localização.
Levantamento obtido com exclusividade pelo Estado aponta que a distância entre o imóvel onde o comprador está e o local onde ficará seu próximo imóvel é, em média, de cinco quilômetros. O índice varia de acordo com o valor do imóvel e a renda do comprador, sendo que quanto mais caro é o novo lar, mais perto está da sua antiga casa.
O dado faz parte do perfil de quem procura um imóvel residencial em São Paulo, feito pela Lopes Inteligência de Mercado com base em 8.158 escrituras da região metropolitana da cidade em 2010 (leia mais abaixo).
“As pessoas não compram o imóvel em si, mas o benefício que ele traz”, afirma o professor da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), Júlio Pires. “Para os brasileiros, a casa própria é um dos principais objetivos da vida.”
Os brasileiros têm um comportamento diferente de europeus e norte-americanos no processo de compra. O brasileiro, segundo Pires, se prende a raízes, procurando bairros familiares ou perto de quem conhece. “Em média, ele se muda a cada dez anos, enquanto o americano troca de casa a cada quatro.”
O vice-presidente de Imobiliário do Sindicato da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP), Odair Senra, também identifica diferenças claras. “O brasileiro nem considera aplicar o dinheiro e viver de aluguel, como é comum em muitos países.”
Apesar do desejo da casa própria ser comum à maioria dos brasileiros, as diferenças existem na hora de escolher.
O temor, por exemplo, que aparece na hora da compra varia segundo a classe social. Uma pesquisa realizada pelo instituto de pesquisa Data Popular com 3.005 pessoas em 35 municípios, em 2010 revela que o maior medo dos compradores das classes A e B é não receber o imóvel depois de pagar por ele. Já entre os participantes das classes C, D e E, o que tira o sono é não dar conta de pagar a dívida.
Novo e usado. Segundo Klausner Monteiro, diretor nacional de vendas da construtora Rossi, do primeiro contato até o fechamento do negócio, em geral correm três meses. “A demanda pelos novos empreendimentos é grande, por isso é preciso ser rápido”, afirma. Mas quem prefere imóvel usado, leva muito mais tempo em relação à escolha de um novo.
“Quem compra um antigo, compara bastante e é mais exigente”, diz o presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto. Segundo ele, o tempo até bater o martelo chega a ser o dobro daquele gasto por quem está em busca de um imóvel um novo.
O geógrafo Marcelo Abrunhosa, 40 anos, comprou seu primeiro imóvel em 2009, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Neste ano, após três meses pesquisando o mercado, está adquirindo outro apartamento, desta vez usado, com 75 m2.
O tamanho do primeiro imóvel, 50m² era suficiente para Marcelo e sua mulher, Cristina, até a chegada do primeiro filho do casal, há quatro meses. “Queríamos estar próximos da mãe dela, que mora em Moema, para nosso filho crescer perto da avó”, diz ele.
A decisão fez com que o apartamento do Tatuapé fosse colocado à venda. Agora, o casal prepara a mudança para o novo lar, a sete quarteirões da sogra.