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Bexiga, Bixiga ou Bela Vista?

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Bexiga, Bixiga ou Bela Vista? Depende da época. O primeiro nome teria surgido a partir da Chácara do Bexiga, que, loteada, deu origem ao bairro no final do século passado. Ou então de uma epidemia de bexiga (varíola) ocorrida no primeiro século da cidade, quando os doentes teriam sido postos de quarentena no local. Bela Vista, por sua vez, foi o nome escolhido no início do século pelos imigrantes italianos que moldaram o bairro e, a partir da década de 1960, Bixiga foi a maneira carinhosa que o resto da cidade encontrou para se referir à Bela Vista boêmia, dos bares, cantinas e arquitetura típica.

Em 1559 a área fazia parte da sesmaria do Capão, pertencente a Antônio Pinto. Um dos seus últimos proprietários foi Antônio José Leite Braga, no final do século XIX. As terras, que iam da atual Avenida Nove de Julho até a Brigadeiro Luís Antônio, começaram a ser loteadas após a inauguração da elegante e aristocrática Avenida Paulista, em 1882. As primeiras ruas abertas ganharam nomes como Vale do Andorra (atual Santo Antônio), Valinho (major Quedinho), Antônio Prado (major Diogo), Celeste (Treze de Maio), Misericórdia (atual Abolição). Já a Avenida Brigadeiro Luís Antônio foi aberta nas antigas terras do barão de Limeira, a fim de encurtar o caminho para Santo Amaro.

Mas, ao contrário da vizinha Avenida Paulista, o público do novo loteamento era humilde. Os terrenos foram vendidos a ex-escravos e principalmente aos italianos que começavam a chegar para ocupar o lugar desses como mão-de-obra no campo e na cidade. Ao Bexiga, chegaram italianos do sul, especialmente da Calábria. Ao contrário de outros compatriotas que trabalhavam como operários ou lavradores, os calabreses, orgulhosos, eram normalmente artesãos, sem vínculo empregatício. Conservadores, patriarcais e apreciadores da boa mesa, construíram casarões compridos e de fachada estreita, onde morava não uma família, mas várias. Os cômodos iam sendo ocupados à medida que os filhos iam casando ou novos parentes chegavam da Europa. Para eles, mais do que decorrência da pobreza, as residências coletivas eram uma questão cultural.

Uma das primeiras providências dos italianos chegados ao Bexiga foi mandar fazer uma estátua de Nossa Senhora Aquiropita, venerada pelos calabreses. No início, ela ficava na casa de um dos patrícios e só saía no dia 15 de agosto, para as festas em sua homenagem. Em 1910, os italianos formaram uma comissão encarregada da compra de um terreno para a construção da igreja dedicada à santa. Após conseguir adquirir o terreno com o dinheiro recolhido em festas religiosas, iniciaram a construção do templo, que ficou pronto em 1926. Com sua inauguração, as festas de agosto foram se estendendo além do dia da padroeira.

A origem das cantinas que notabilizam o bairro está no início do século XX. A princípio, não passavam de armazéns onde os homens se reuniam para comer, beber vinho e jogar cartas. A comida vinha de casa, preparada pelas mulheres. Foi em 1904 que Francisco Capuano abriu a primeira cantina com cozinha, na Rua Major Diogo. Procurado por quem queria experimentar a típica comida calabresa, o bairro, até então extremamente fechado a quem não morasse ali, nos anos 30 acabou desenvolvendo uma vida noturna ativa, com música, cantinas, serestas, dança e até um cordão, que depois viria a se tranformar num dos orgulhos do bairro, a escola de samba Vai-Vai.

Na década de 40, a Bela Vista, com sua aura de liberdade e alegria, transformou-se em ponto de boêmios, músicos e artistas. Adoniran Barbosa, além de traduzir o espírito paulistano da época, era um produto típico da boemia da região. O bairro também foi palco do nascimento do teatro profissional no Brasil, com a inauguração, em 1948, do Teatro Brasileiro de Comédia, TBC, por Franco Zampari. Hoje, estão no Bixiga os teatros Sérgio Cardoso, Ruth Escobar e Oficina, de José Celso Martinez Correa, entre muitos outros. Por isso, um dos apelidos recebidos pelo circuito boêmio foi “Broadway paulistana”.

Nas décadas seguintes, enquanto o casario construído pelos primeiros imigrantes se deteriorava e os prédios avançavam nos limites do bairro, descendentes dos primeiros moradores começaram a abandonar a Bela Vista. Nos anos 1970, decidido a revalorizar o bairro e sua cultura, entrou em cena Armando Puglisi, o “Armandinho do Bixiga”. Sem profissão definida, filho de pai calabrês e mãe siciliana, Armandinho foi decisivo para a restauração da auto-estima do Bixiga. Antes de morrer, em 1994, presidiu a Vai-Vai, criou um calendário de eventos que inclui a tradição da confecção de um bolo gigante no aniversário da cidade, revitalizou a festa de Nossa Senhora Aquiropita, escreveu um livro com histórias do bairro. Por fim, criou o Museu do Bixiga, em 1980.

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