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Marquises à espera de acidentes

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Sem nenhuma fiscalização específica da Prefeitura e sem a existência de leis que determinem essa competência, a saúde dos prédios residenciais, comerciais, casas e lojas de São Paulo está na UTI. As milhares de estruturas não passam por manutenção periódica e as marquises paulistanas são exemplos de que, a qualquer momento, pedaços de concreto podem vir abaixo.

A reportagem do JT percorreu a Cidade e encontrou muitas que estão à beira de um colapso. O pior cenário foi visto na Teodoro Sampaio, altura do número 1.800, onde a marquise cedeu e está presa apenas por vigas enferrujadas. Até chegar ao estágio terminal, o locatário da loja da marquise capenga disse que a estrutura não tinha apresentado nenhum sintoma de “doença”. “Fui pego de surpresa. Nunca imaginei que a marquise poderia cair. Ela estava inteirinha e, no dia em que decidi adequar a fachada para o Cidade Limpa, toda a estrutura desabou”, contou o comerciante Hugo Canedo.

Para o diretor do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Construtiva (Sinaenco), Marcelo Rozemberg, esse é o principal agravante das marquises. “Nas construções, a marquise é o elementos de maior fragilidade. E como a responsabilidade de manutenção é do proprietário, nem sempre os sinais que indicam o perigo de queda são tão evidentes quanto esses da Teodoro Sampaio.”

Rozemberg acompanhou o JT no trajeto pelas marquises da Capital e apontou quais são os indícios de que as estruturas não estão adequadas. O especialista mostrou que as marcas escuras são sinais de infiltração, assim como a vegetação que nasce em meio ao concreto. “Tudo isso pode ser mascarado, quando o proprietário decide pintar a marquise, até para fazer o que ele acha que é manutenção.”

Ao redor da região da Rua 25 de Março, muitos outros exemplos de marquises malconservadas. Ao todo, foram contabilizadas 12 estruturas com “sinais de doença”, iguais aos apontados pelo diretor do Sinaenco. Mas, se por debaixo das marquises os indícios podem ser disfarçados por uma mão de tinta, em cima das marquises a situação é mais escancarada. Além de mostrar o mar de ambulantes, a vista panorâmica da 25 de Março revela marquises cheias de entulho e sujeira, que podem contribuir para o risco de queda.

Nenhuma pasta municipal é responsável por cobrar a manutenção estrutural das edificações. Procuradas, as secretarias municipais de Infra-Estrutura Urbana, Coordenação de Subprefeituras e Habitação informaram não realizar esse procedimento. A pasta de Habitação disse fazer vistoria antes de o prédio ser inaugurado e que “nesse assunto, cabe ao engenheiro responsável (se obra for nova) executá-la de acordo com o que foi aprovado no projeto, e à subprefeitura local a fiscalização. Depois de pronta e sendo usada, é do síndico a responsabilidade da fiscalização.”

Não há estimativas de quantas marquises existem na Capital. O que se sabe é que, por ano, São Paulo ganha cerca de 620 novos edifícios residenciais que, em um futuro não muito distante, vão fazer parte dos prédios sem manutenção permanente. Um exemplo é o Edifício São Vito, estrutura abandonada no Centro, que possui inúmeras marquises caindo aos pedaços.

O tema é preocupação constante também da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (ABECE). Há quatro anos, a instituição encaminhou à Câmara Municipal um projeto de lei que determina a vistoria permanente desse tipo de marquises e sacadas. Até agora, nada foi decidido.

Saiba o que fazer para manter a “saúde” da marquise 

Mantenha a limpeza 

Para evitar acúmulo de peso extra em cima das marquises, os proprietários devem manter a estrutura limpa. O ideal é evitar colocar vasos ou entulho em cima do concreto, o que pode aumentar o risco de desabamentos

Ralos desobstruídos

Em dias de chuva forte, é comum que as folhas e sujeira trazidas pelos ventos fiquem acumuladas nos ralos da marquise, impedindo o escoamento da água. Isso contribui para aumentar o excesso de peso nas marquises e também a chance de acidentes

Sinais de problemas

As marcas escuras embaixo das marquises podem ser indícios de infiltração. O acúmulo de água também faz crescer plantas e vegetação em meio ao concreto. Além disso, pequenas rachaduras podem indicar que a marquise tem falhas estruturais

Denúncias

Qualquer pessoa que identificar problemas estruturais nos prédios ou que detectar algum sinal de perigo pode denunciar na subprefeitura da região e também ao síndico responsável pelo edifício

 

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