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Um trio e uma só meta

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Fachada em estilo contemporâneo do salão de cabeleireiro Kase, primeiro projeto do FGMF (Fotos: Divulgação)

Fachada em estilo contemporâneo do salão de cabeleireiro Kase, primeiro projeto do FGMF (Fotos: Divulgação)

O Estado de S. Paulo – Como vocês se conheceram?
Rodrigo Marcondes Ferraz: No primeiro ano da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), mas acabamos por cursar disciplinas diferentes. O encontro pra valer só se deu mesmo a partir do 4º ano, quando fizemos juntos a disciplina de projetos e formamos um grupo de estudo para compartilhar nossos interesses.

Que papel os concursos tiveram para vocês?
Fernando Forte:
Participamos deles desde os tempos da faculdade. O concurso abre espaço para discussão, pesquisa e colabora para uma atualização de conceitos que acaba se refletindo nos trabalhos.

Para além do aspecto promocional, o projeto desenvolvido para a “Wallpaper” parece ter levado vocês a refletirem sobre a própria trajetória do escritório. O que ficou da experiência?
Lourenço Gimenes:
De fato, após uma década de produção intensa, não havíamos nos dado conta de que já tínhamos uma cara. O projeto nos levou à constatação de que tínhamos um repertório, um vocabulário que, à parte nossa obsessão em começar cada trabalho do zero, estava sempre ali. Presente em tudo o que até então havíamos feito, desde nosso primeiro projeto, o salão de cabeleireiros Kase, na Mooca.

Os arquitetos Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz

Os arquitetos Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz

E qual é esse vocabulário da FGMF?
Forte: Do ponto de vista construtivo, a preocupação com o aspecto estrutural dos edifícios. Do conceitual, com o aspecto humano da arquitetura. Percebemos que toda a investigação que fazemos tem por objetivo expandir as potencialidades de uso dos espaços. Fazer deles algo mais rico, surpreendente e agradável.

O que há de utopia e de realidade no projeto desenvolvido para a revista britânica?
Gimenes: Como construção, esse projeto é 100% viável. Mesmo o deslocamento das paredes pode ser conduzido, sem maiores dificuldades, por dois indivíduos adultos.

Na opinião de vocês, como o desenho da casa vem respondendo às mudanças no funcionamento da sociedade?
Ferraz:
O fator mais evidente é a necessidade de eliminar barreiras ao fluxo de informações dentro da casa. Cozinhas abertas e ampliadas. Maior espaço para convivência. Diminuição das áreas íntimas, de transição e de serviço. Uma casa menos compartimentada, menos hierarquizada, não é mais utopia. É hoje exigência da maioria de nossos clientes.

O que caracteriza as casas projetadas pelo FGMF?
Forte:
Primeiro, o aspecto humano. É inconcebível, por exemplo, projetar um quarto onde mal cabe uma cama de solteiro. Em um sentido amplo, uma compreensão do espaço. Deixar o funcionamento da casa bem claro para o morador. Para nós, a boa arquitetura dispensa plaquinhas explicativas.

Para muitos arquitetos com a mesma formação de vocês, o tratamento dos interiores nunca foi exatamente uma prioridade nos projetos. Como vocês veem essa questão?
Gimenes:
Partimos sempre da estrutura para atingir o programa desejado. Tudo o mais é consequência, inclusive o desenho dos interiores. Esta é a nossa verdade. Gostamos de interferir nos materiais e acabamentos. Quanto ao estilo, deixamos por conta do cliente. Ou de quem ele escolher para essa tarefa. Não nos sentimos nada constrangidos em reconhecer que existem excelentes profissionais na área.

Como foi projetar a escola no Jardim Colombo?
Ferraz:
Um trabalho que exigiu delicadeza no trato com a população local. Nosso objetivo era fazer as pessoas se sentirem verdadeiramente proprietárias da obra. Para tanto, optamos por materiais simples, que não destoassem tanto do contexto da favela onde a escola está inserida. A implantação se revela audaciosa, com enormes terraços ampliando visualmente os horizontes dos moradores locais.

Como é para o arquiteto projetar um edifício em um contexto tão diferenciado – e até certo ponto hostil – como o enfrentado por vocês no concurso Living Steel, na Rússia?
Gimenes:
Foi preciso deixar de lado todos os preconceitos para, de alguma forma, mergulhar em um universo do qual não tínhamos referências. Como passar semanas sem sair de casa para não morrer congelado. Por outro lado, essa ausência de referências pode contribuir para que o projeto tome direções nunca antes imaginadas, mas que por fim podem se revelar as mais apropriadas.

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