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Inovar com bambu

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Mesa de jantar da Artek, à venda por encomenda na Firma Casa (Foto: Divulgação)

Mesa de jantar da Artek, à venda por encomenda na Firma Casa (Foto: Divulgação)

Orientais costumam recorrer ao bambu para metaforizar a vida. Para eles, bom é ter, ao mesmo tempo, a flexibilidade e a resistência dessa planta. Justamente por conta de tais características tão marcantes, além de seu caráter sustentável, a matéria-prima tradicionalmente usada em cercas e varas de pescar ganha novo status e começa a ser usada com força em peças de design.

A tendência, no Brasil e lá fora, consolida-se graças à técnica do bambu laminado colado (BLC), desenvolvida na China. “As ripas planas de BLC permitem a criação de produtos com visual contemporâneo”, diz Breno Barelli, formado em Desenho Industrial pela Unesp Bauru, que concebeu a cadeira de balanço Pensil em 2005, quando ainda era estudante de mestrado. De certa forma, o móvel é também produto da obra de Marco Antonio Pereira, orientador do aluno e coautor do livro Bambu de Corpo e Alma (Editora Canal 6).

Estudioso há 20 anos da espécie, cuja origem remonta a milênios na China, Marco Antonio ajudou a aproximar os departamentos de Desenho Industrial e Engenharia da universidade para pesquisar o BLC. “O bambu apresenta alta resistência e flexibilidade, além de ser material renovável”, observa. “Por se tratar de uma gramínea, não necessita de replantio, já que novos colmos brotam a cada ano.”

Na lida com a tal técnica, Tom Dixon, nome célebre no universo do design internacional, abriu caminho para outros que ainda estão chegando lá. Sob comando dele, a finlandesa Artek lançou, em 2007, a Bambu Collection. No Brasil, a Firma Casa representa com exclusividade a marca, cujos móveis, como mesas de jantar e bancos, são vendidos sob encomenda.

As produções nacionais começam a despontar. É o caso do banco Peque, que será lançado no final deste mês. Criada pelo arquiteto croata radicado no Brasil Marko Brajovic, a peça foi desenvolvida em parceria com a paulistana TIVA Design e é formada por lâminas de bambu de 1,5 milímetro de espessura, com o interior pintado de verniz à base de água.

Outra marca daqui que aposta no bambu é a catarinense Oré Brasil. A companhia produz desde 2008 móveis e revestimentos de BLC com foco no mercado de luxo. “A planta in natura sempre foi usada como matéria-prima de móveis rústicos”, diz Bernardo Foggiato, gerente comercial da empresa. “Mas as longas fibras do bambu, junto com a técnica do laminado, possibilitam um mobiliário de aparência sofisticada.” Já os revestimentos, destinados a áreas internas, formam mosaicos e texturas graças à combinação de nós, cascas, fibras e cortes transversais da planta.

A paulistana Indusparquet vende pisos importados da China. Disponíveis nos tons natural e carbonizado, eles podem apresentar certa restrição quando aplicados em áreas muito movimentadas. “Como é mais mole, como o carvalho, fica marcado por sapatos de salto alto, por exemplo”, diz Fernanda Baggio, da área de marketing da empresa. “Além disso, o brasileiro está acostumado a madeiras duras no piso.”

Mas o que acham arquitetos e decoradores a respeito do bambu laminado? “Gosto de usá-lo em paredes e armários, para aquecer e dar leveza ao ambiente”, explica o carioca Maurício Nóbrega. Para ele, o material é chique, resistente e não atrai cupins: “Evito colocá-lo em áreas úmidas, já que pode descolar”. Arthur Casas é outro entusiasta. “Embora seja ainda um pouco caro, trata-se de uma boa solução tanto para áreas internas quanto para deques”, opina ele, que ainda emprega o bambu, do ponto de vista da arquitetura, em caixilhos e venezianas.

Não é só. Acessórios e até mesmo computadores entram na equação lar + bambu. A linha lançada pela Welf, marca de objetos para cozinha e banheiro de bambu laminado, reforça esse segmento. “As peças são um terço mais leves que os similares de madeira, têm antibactericidas naturais e estão em sintonia com a onda ecológica”, diz Peter Kirsner, diretor da Welf.

Em outubro, a Dell Brasil lançou o Studio Hybrid, PC que consumiria até 70% menos energia. A novidade é o revestimento de bambu. “Quando combinamos esse visual ao DNA ecologicamente inteligente, o resultado é único”, diz Hans Erickson, diretor da Dell América Latina. Ao que parece, é bom se preparar para ver cada vez mais em casa a presença desse material cheio de qualidades.

VITAL NO FUTURO – O croata Marko Brajovic, de 35 anos, cursou Arquitetura na Universidade de Veneza e, em 2006, aportou em São Paulo como diretor da escola de Desenho Industrial do Istituto Europeo di Design (IED). Atualmente dono de um escritório de arquitetura no bairro do Sumaré, Marko passou a trabalhar com bambu depois de um projeto na Costa Rica, encomenda de uma designer da marca americana Ralph Lauren.

A casa acabou não saindo do papel, pois o terreno era próximo de um parque estadual e a construção foi vetada. Mas despertou o interesse de Marko. Hoje ele finaliza seu doutorado na Universitat Internacional de Catalunya, e o tema da tese é Arquitetura e Design Avançados em Bambu. O Casa& falou com o arquiteto na semana passada, quando estava às voltas com a preparação do lançamento nacional do banco Peque, no final do mês.

A aplicação do bambu é um mercado promissor no mundo?
Não é só promissor como vital, já que a falta da madeira torna-se uma realidade cada vez mais iminente. O bambu é abundante no Brasil e altamente renovável, com um índice de crescimento de 20 centímetros por dia , podendo chegar a 30 centímetros em algumas espécies.

Quais são as principais qualidades desse material?
Ele é bonito e elegante. A versatilidade do bambu é incrível, os laminados podem ser aplicados em peças de mobiliário, revestimentos e até elementos arquitetônicos estruturais, tamanha a sua resistência.

Qual foi o impacto do projeto na Costa Rica em seu trabalho?
A partir da experiência com a casa percebi que a arquitetura contemporânea deve pesquisar o uso de materiais tradicionais em novas aplicações, novos métodos e processos. E o bambu é perfeito para esse papel.

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