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Sossego e agitação convivem lado a lado no bairro

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Os pássaros preferiram a badalação dos bares para jovens e das lojas de grife. Os índios, por sua vez, ficaram com estabelecimentos para a família e ruas bem mais tranqüilas. Moema é assim: diferente de um lado e de outro da Avenida Ibirapuera. Não dá para dizer que existe parte ruim. Mas quem está do lado dos índios não quer saber de morar no dos pássaros – e vice-versa.

O bairro inteiro é valorizado e explorado pelo mercado imobiliário, só que há diferenças. Uma delas é o próprio preço dos apartamentos. “A parte dos pássaros é, em média, 20% mais cara que a dos índios”, diz o diretor da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), Luiz Antônio Pompéia. “Pode-se afirmar isso levando em conta a proximidade do Parque Ibirapuera e a rota dos aviões.”

A história de o bairro ter dois lados começou em 1913, quando seu fundador, Fernando Arens Júnior, batizou ruas com nomes indígenas em homenagem à sua filha Araci. A parte oposta, por ter uma fauna rica, ficou com nome de pássaros. Hoje, os moradores adoram os nomes.

A carioca Ana Francesca, de 60 anos, mora no lado das aves. Para ela, as ruas daquele trecho são perfeitas para um passeio no fim da tarde e um café. Nessa região, fica a única parte do bairro que ainda é definida como Zona 1 pela Prefeitura, ou seja, estritamente residencial. “O bairro é ideal para os cariocas, que normalmente gostam de andar ao ar livre e ver a paisagem”, justifica a moradora.

Fora isso, as vitrines das lojas da área dos pássaros são um verdadeiro colírio para ela. “Tenho amigas que vêm do Rio só para comprar sapatos na Rua Bem-Te-Vi. Lá, todas as lojas acompanham as últimas tendências”, diz Ana. A rua tem pelo menos cinco estabelecimentos especializados em calçados.

Para o advogado Eduardo Riedel, de 74, que também mora na parte dos pássaros, a principal diferença entre os dois lados está no trânsito. “Nos pássaros, os acessos para sair do bairro são mais fáceis, mas as linhas de ônibus ficam um tanto restritas”, explica.

Fidelidade

Nas ruas com nomes indígenas, como a Napurus, onde a professora Maria Lucia de Souza, de 55, mora há 20 anos, a tranqüilidade é maior e o público dos bares e restaurantes, diferente. “Quase nunca vou às casas na parte dos pássaros. Acho que lá fica cheio de adolescente. Aqui perto há menos opções, mas também são ótimas, como o bar do Juarez, onde sempre vou.”

Maria é daquelas moradoras fiéis da parte dos índios. Já mudou três vezes e nunca quis ir para o lado de lá da Avenida Ibirapuera. “Morei antes nas Ruas Maracatins e Jurema. Mesmo se tivesse a oportunidade, não iria para os pássaros de jeito nenhum.” No shopping, que fica do seu lado, ela vê praticidade. “Quando preciso de alguma coisa, já sei em que loja vou e compro rapidinho.”

Mas há também moradores que não ligam para as diferenças e aproveitam o melhor de cada lado de Moema. É o caso do advogado Carlos Alberto Accunzo, de 62, que mora na parte indígena. “Aqui tem mais árvores, as alamedas são mais largas e ouço os passarinhos cantando. Mas também gosto dos restaurantes e das lojas da parte de baixo”, diz Accunzo.

Para a presidente da Associação de Amigos e Moradores de Moema, Lygia Horta, que mora na parte dos pássaros, as diferenças já foram bem maiores. “Há algum tempo começamos a registrar reclamações do lado dos índios. Onde havia poucos bares, surgiram mais.” 

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